Bailarina cheia de sonhos

Almejei em muitos sonhos infantis ter pés de bailarina e carregar nos braços eternos gestos de poemas.
Nunca pensei, como nunca pensam os jovens, que um dia meu corpo estivesse mais pesado, mais comprometido, mais cheio de dores, afinal ele é denso.
Os poemas começaram a morar em outras partes e tempos da minha vida. Na ternura de um olhar, no carinho de um amor sem cobranças. Num coração ferido mas sempre acolhedor. Nas dores da solidão.
Os pés de bailarina sonhados nunca conheceram sapatilhas. Muito antes sapatilhas de aço, como canta um encantador cantor. Com o tempo este sonho pueril me conta das tornozeleiras que vamos teimando em determinar para os nossos dias.
Os dias, como a vida, tem alternâncias de cores. São fluídos como é a natureza. Cinzas, de sol, de chuva, de névoas. Aprendemos que mesmo bailarinas tem chulé, tem quedas e tem tempo. Mesmo assim o olhar e o coração ficam tristes em alguns dias. Elas, as bailarinas, também não estão imunes ao cotidiano.
Vejo-me como bailarina da vida, sabendo que dancei tantas músicas. Procurei e conheci tantos ritmos . Pratiquei credos externos. O interno sempre o mais difícil.
Hoje me planto à beira mar. Com o mar reaprendo sempre a lição da impermanência. Me curvo à sua magnitude. A paz que ele me ensina, mesmo nos dias de maior ressaca, encerram a minha gratidão.
Ainda que nada aprendi sobre balé nos meus pés, meu coração, aquele que ultrapassa as condições físicas comprometidas ,me diz que o bailado continua. É infinito.
Infinita é minha busca.
Agora com outros bailados!

BY MLK 2020 - JANEIRO